quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A distinção de linguagem entre a escola pública rural e a urbana

A distinção de linguagem entre a escola pública rural e a urbana


Maria Helena F. Veras

Paula Francinete R. da Luz

Patrícia de S. Mariano Matias

Orientado por: Joana Glaucia dos Santos

Resumo:

O presente texto trata-se de uma reflexão a respeito, a partir de uma prática discursiva num processo de interação social, procurou-se focalizar, dentro de uma perspectiva dialética, uma situação de implicações num contexto rural-urbano. Numa perspectiva dentro do processo de ensino aprendizagem. Neste artigo tem-se o desejo de analisar as contradições, conflitos e preconceitos gerados na relação língua, linguagem, educação e escolar, que reflete sobre os modos de construção de identidades sociais dentro desse cenário. Sobretudo pelo domínio da escrita na relação de poder, traz profundas repercussões na concepção de educação e de ensino da escola brasileira e adquire proporções profundamente marcantes quando dimensionadas no universo escolar da rede pública de ensino. Percebe-se neste artigo que o desafio de chegar ao conhecimento da causa pelo qual ocorre tamanha variação nestes municípios estudados, no qual passa por varias formas e estilos da linguagem, das metodologias de ensino e pela reformulação curricular que envolva mais o educando no conhecimento.


Palavras-Chave: conflitos, linguagem, social, desafio e conhecimento.



1.0 Introdução


Este trabalho propõe-se a refletir sobre, a escola, procurando compreender as relações entre linguagem, na perspectiva do uso e do ensino de língua; os conflitos no processo de aprendizagem de língua materna no cenário sociolingüístico brasileiro, notadamente nos contextos educacionais.
Através de análise de segmento de fala de aluno, recortado de um corpus constituído a partir de práticas discursivas num processo de interação social, procurou-se focalizar, dentro de uma perspectiva dialética, uma situação de implicações num contexto rural-urbano: contradições, conflitos e preconceitos gerados na relação língua, linguagem, educação e escolar, que reflete sobre os modos de construção de identidades sociais dentro desse cenário educacional.
Essa dicotomia de caráter político-social e ideológico, revelada, sobretudo pelo domínio da escrita na relação de poder, traz profundas repercussões na concepção de educação e de ensino da escola brasileira e adquire proporções profundamente marcantes quando dimensionadas no universo escolar da rede pública de ensino, constituída, quase que na sua totalidade, por uma clientela oriunda das camadas populares que, através de conquista progressiva de acesso à escola, não obteve a reciprocidade na democracia da escola.
Propondo uma forma padronizada de linguagem, com maior facilidade de domínio para uma classe privilegiada, por um processo de familiarização ou convivência mais ou menos prolongada, ou ainda por um processo formal e intencional de regras explícitas de uma variedade padrão, a escola restringe o acesso da camada desprestigiada socialmente ao domínio da modalidade escrita institucional, apresentada como a única possibilidade lingüística correta de uso e de acesso ao saber erudito.
Ao trazer para reflexão os paradoxos instaurados no processo ensino-aprendizagem e suas conseqüências sociais para os falantes de classes sociais desprestigiadas, tem-se a pretensão, sobretudo, num outro viés, mostrar um jogo de forças contrárias que se instauram no interior da instituição escolar, num processo de resistência nas relações de poder.
Ressaltando a diferença entre a linguagem urbana e rural na escola. Por que é comum observar em crianças de 7 a 12 anos, estudantes da zona rural uma linguagem voltada para o conservadorismo mesmo quando inserido no contexto urbano? A investigação dos fatores que influenciaram a linguagem desses alunos. As suas variações de comportamentos dos alunos tanto da zona rural quanto da urbana.
Supondo que a forma de expressão oral conservadora utilizadas pelos estudantes da zona rural tenha relação com fatores do tipo: o convívio familiar, que por sua vez se trata de pessoas idosas, com base numa educação moral com base mais conservadora, dentre o ambiente rural e urbano.
Onde as ocorrências dessa variação de linguagem dentre a zona rural e urbana, dentro da área de pesquisa, ou seja, buscando o interesse que reflete, por exemplo, em comparação e contraste, que contribui tanto na teoria como na prática através de experiência para descrever os vários tipos de linguagem a qual se encontra a escola. Compreendendo as mudanças ocorridas dentro das escolas, isto é, buscando descrever os vários tipos de linguagens encontradas nessas escolas onde pode se, oferecerem umas soluções dentro dessa diversidade sejam culturais e sociais.
Estas observações comportamentais e linguística destes estudantes da zona rural, que pode ser comparada sob dois aspectos, seja ele comportamental ou linguístico, variando entre os estudantes que freqüentam a escola na zona urbana, ao serem analisados apresentam uma notória diferença na linguagem.
É perceptível que nos dois grupos de estudantes, apresenta-se sua marca, registro ou influência dentro do seu contexto social a qual estão inseridos. Dentre outras observações os estudantes da zona rural em seu contexto escolar possuem um ritmo de linguagem de forma lenta, ou seja, tranquilo com palavras simples e próximas do seu contexto social, não é significativo o uso de gírias ou palavrões.
Mas quanto ao relacionamento aluno x professor, aluno x aluno, que na sua maioria das vezes de forma cordial, sincera, respeitosa, participativa, generosa e responsável.
Com base na convivência familiar, estes mesmos estudantes têm uma linguagem respeitosa e comprometida com os membros da família. Apresentando um vocabulário maduro e com palavras típicas, que vem de gerações, por terem uma convivência maior com suas avós e bisavós e a influência do meio que leva-nos a concluir que o meio social é o fato determinante na fala do individuo.
Dentre o que foi observado pode-se notar uma diferença entre os alunos da zona urbana, que seu contexto escolar percebe-se que a linguagem tem um ritmo acelerado, chegando a se até agitado, com palavras voltadas para contexto urbano e seus elementos, que é perceptível o uso de gírias, marcas de linguagem virtual e de palavras utilizadas de uma realidade globalizada, entretanto é perfeita a comunicação e entendimento entre eles. Se referindo ao relacionamento aluno x professores, aluno x aluno é amigável, mas um tanto conflituosa.
Com base nesta analise superficial dos estudantes da zona rural no contexto urbano, percebe-se que a princípio tende a resistir às influências, que o novo exerce sobre a forma de se expressar, entretanto é o diferente que chama a atenção e às vezes os tornam objetos que ridicularizarão, entre os demais. Pois as escolas não se mostram ainda preparadas para aceitar essa diversidade linguística e cultural, a qual nem sempre funciona como mantenedora do processo inclusivo, pois não valoriza e nem transforma essa diversidade, pelo contrario descaracteriza impondo um caráter linguístico semelhante aos demais, fazendo com que o aluno da zona rural, se encaixe as novas regras linguísticas.
Entretanto um estudante oriundo da zona rural pode-se perfeitamente interagir tanto com seu meio como o outro, sem perder sua identidade, nem seus valores morais, isso tudo sem perder o significado da sua formação.


2.0 - A língua, em suas diversas formas e variantes, é uma entidade viva, dinâmica e é o código utilizado pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir idéias e conceitos.

Considerando que as cidades de nossa região são formadas pela união de diversas raças e povos, é impossível ignorar que a diversidade étnica caracteriza nosso país. A língua, em suas diversas formas e variantes, é uma entidade viva, dinâmica e é o código utilizado pelo ser humano para se comunicar com seus semelhantes, trocar informações, difundir idéias e conceitos. O uso da escrita desenvolveu a comunicação entre os homens permitindo-lhes remontar as barreiras do tempo na recepção de mensagens, além de ajudar muito no desenvolvimento intelectual do ser humano. Ademais, seu domínio passou a figurar, socialmente, como prestígio social e instrumento de ascensão profissional.
Devido a estas constantes inovações, as escolas estão deixando de ser apenas o local onde se acumulam conhecimentos, que tem no professor o depositário da sabedoria e no estudo, um fim em si mesmo. A escola passou a ser um ambiente voltado à reflexão e o educador passou a atuar como mediador da aprendizagem, sabendo respeitar e interagir com as diferenças étnicas, culturais, sociais e econômicas do educando. A sociedade está cada vez mais exigente então não basta seguir rigidamente as normas lingüísticas, sem deixar espaço para o desenvolvimento do educando como ser crítico, capaz de expressar suas idéias e lutar pelos seus ideais.
Conforme Signorini (2002, p. 76),

A língua se relaciona com a sociedade porque é a expressão das necessidades humanas de se congregar socialmente, de construir e desenvolver o mundo. A língua não é somente a expressão da alma, ou do íntimo, ou do que quer que seja do indivíduo; é acima de tudo, a maneira pela qual a sociedade se expressa como se fosse a sua boca.


O ato de educar, na atualidade, tem se apresentado como um desafio aos educadores, já que o papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se cada vez mais no novo milênio e aponta para a necessidade de se construir uma escola reflexiva voltada para a formação de cidadãos, espaço de transformação onde seja permitido a todos o acesso de conhecimento socialmente elaborado e reconhecido como necessários ao exercício da cidadania.
A população vive em uma era marcada pela competição e pela excelência, em que progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para a sociedade. Tal influência do processo e modernização impõe uma revisão dos métodos de ensinar e aprender, enfatizando o uso da língua como instrumento de transformação social, através da educação.
Para Soares (1980), a transformação social através da educação será conseguida com uma escola que leve a um bidialetalismo funcional, porém não com o objetivo de substituir a variedade lingüística do aluno pela variedade privilegiada, mas para que o educando compreenda as relações de força que se estabelecem socialmente e qual a posição de sua variedade na economia dessas relações.
Propondo-se ao aluno, assim, “um bidialetalismo não para sua adaptação, mas para a transformação de suas condições de marginalidade” (SOARES, 1980:78).
A proposta pedagógica para uma escola transformadora baseada no bidialetalismo pede que se observem diferenças entre o dialeto de prestígio e os dialetos populares, rejeitando a qualificação destes como deficientes. Assim, a apropriação do dialeto de prestígio pelas camadas populares se realiza não com objetivo de substituição de seu dialeto de classe, mas para que se acrescente a ele, como mais instrumento de comunicação.
De acordo com Soares (1980, p. 74)

Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio (argumento em que se fundamenta a proposta da teoria das diferenças lingüísticas), mas também, e sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma rejeição da classe social, através da rejeição de sua linguagem. Em segundo lugar, uma escola transformadora atribui ao bidialetalismo a função não de adequação do aluno às exigências da estrutura social, como faz a teoria das diferenças lingüísticas, mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira condições de participação na luta contra desigualdades inerentes a essa estrutura.

A primeira dimensão diz respeito à identidade social do falante, a segunda compreende a identidade social do ouvinte e a terceira envolve todos os elementos possíveis no contexto da comunicação, exceto os da primeira e segunda dimensão, sendo a língua um acontecimento cuja estrutura e léxico funcionariam como elementos representativos da variação social, onde a fala apresenta variações de escolha por um lado e de outro a força repressiva da norma comum, onde o primeiro fenômeno constitui um dos principais problemas que trazem essa diferença dentro da linguagem.
Para Bagno (1999), não é a grande extensão territorial do país que gera as diferenças regionais e sim, as graves diferenças de status social que explicam existência, em nosso país, de um real abismo lingüístico entre os falantes das variedades não-padrão do português brasileiro e os falantes da variedade culta.
Bagno (1999, p. 15) afirma que:
A escola geralmente não reconhece a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, impondo assim, sua lingüística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de grau de escolarização.

A variação social ou diastrática, por sua vez, pode esta relacionada a um conjunto de fatores que tem a ver com a identidade dos falantes e também com as variedades devidas à situação. Nesse sentido, podem-se apontar os seguintes elementos relacionados às variações sociais do falante: idade, sexo, raça ou cultura, profissão, posição social, grau de escolaridade, local em que reside na localidade.
Como um fator relevante na identificação onde trás a importância da escolarização. Ainda que seja um número reduzido, trata-se de uma questão importante a se ressaltar. Pode-se considerar como uma alteração no cotidiano atual do morador rural que se propõe a estudar na cidade, diferentemente de décadas anteriores, tem acesso à escola, o que também lhe permite o conhecimento, ao menos parcial, da norma culta.
Constata-se, portanto, que as particularidades lingüísticas identificadas na fala dos informantes em questão resultam de particularidades da comunidade de que faz parte, o que confirma a estreita relação entre linguagem e sociedade.
Esta postura de Saussure em privilegiar a língua falada em detrimento da escrita está ligada às aspirações de ruptura ou desejos de libertação que atingiam todos os setores da vida no começo do século XX. Nesse sentido, Coelho (1986, p. 13) afirma que:

A teoria saussuriana procura libertar o conhecimento e o uso da língua, dos preconceitos de classe, das relações de Poder e da absolutização das formas consagradas, que impediam a livre e criativa manifestação do falar individual e, consequentemente, do pensar livre.

Embora Saussure (1970, p.23), tenha definido a linguagem como um fato social, somente a partir dos anos cinquenta é que a relação entre o fenômeno linguagem e com o meio social passa a ser estudada com maior profundidade.
Ao estudar qualquer comunidade lingüística o que podemos perceber de imediato é a existência de uma diversidade e uma variação lingüística, caracterizando diferentes maneiras de falar. Essas variedades lingüísticas podem ser observadas em diversas culturas e em diferentes estratos da população.


3.0 Considerações Finais

Chega-se a conclusão que, com base nesta analise superficial dos estudantes da zona rural no contexto urbano, percebe-se que a princípio tende a resistir às influências, que o novo exerce sobre a forma de se expressar, entretanto é o diferente que chama a atenção e às vezes os tornam objetos que ridicularizarão, entre os demais.
Pois as escolas não se mostram ainda preparadas para aceitar essa diversidade linguística e cultural, a qual nem sempre funciona como mantenedora do processo inclusivo, pois não valoriza e nem transforma essa diversidade, pelo contrario descaracteriza impondo um caráter linguístico semelhante aos demais, fazendo com que o aluno da zona rural, se encaixe as novas regras linguísticas.
Entretanto um estudante oriundo da zona rural pode-se perfeitamente interagir tanto com seu meio como o outro, sem perder sua identidade, nem seus valores morais, isso tudo sem perder o significado da sua formação.


4.0 Referencias

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico o que é, como se faz. São Paulo, Brasil, Loyola 1999.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura e linguagem. 4 ed., São Paulo: Edições Quíron, 1986.

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas Sobre: Iniciação à Pesquisa Científica - 3 ed., Campinas, SP: Editora Alínea, 2003.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1970.

SIGNORINI, Inês. Língua (gem) e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas, SP. Mercado de Letras, 2002.

SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1980.

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